Família: tecendo redes e construindo pontes.
Conforme a proposta inicial de nosso trabalho, o objetivo deste é valorizar nossa atuação na clínica e conseqüentemente, repensar a teoria. Embora não seja terapeuta familiar, sempre convido a família e/ou rede social do cliente para a orientação psicoterapêutica, geralmente quando estes são crianças ou adolescentes.
Esta postura me fornece uma possibilidade ímpar de trabalho, pois o conteúdo observado no espaço terapêutico é trabalhado de maneira coletiva e relacional, incluindo todos os membros da família, delimitando a cada um destes suas responsabilidades, pois passam a se enxergar como co-responsáveis pela relação. É válido lembrar que em alguns casos um dos responsáveis não se conforma com a estada do filho(a) em um processo psicoterapêutico, transferindo para este(a) toda responsabilidade para o seu infortúnio.
Sendo assim, alguns pontos norteiam esta orientação, são eles:
· Tornar real a fala do cliente; em vários momentos o cliente não tem sua opinião respeitada, sendo necessário uma intervenção neste sentido;
· Apresentar à família uma nova maneira de rever seus conceitos (maneira dialógica), ou seja, a fala (comunicação) como transformadora da realidade;
· Falar aos familiares que existem maneiras diferentes de resolver seus dilemas, não existindo o certo ou errado, mas sim uma opinião diferente;
· Em alguns casos, “emprestar” a subjetividade para o cliente;
· Construir com estes, novas possibilidades na relação.
O fomento para a orientação dos pais ou responsáveis é sempre discutido com o cliente, para que no passo seguinte surja o trabalho com a família. Este por sua vez ocorre sempre de maneira lúdica, pois desta forma os “adultos” se sentem mais à vontade, possibilitando uma maior (re)visão de seus conteúdos.
Geralmente, estas têm o foco na relação, pois acredito que se fecundas são facilitadores para o desenvolvimento individual.
Da entrevista inicial até a alta, o cliente é o foco da relação terapêutica, sua presença é indispensável em todos os momentos, podendo este me autorizar a falar em sua ausência.
Caso:
A mãe de V. procura a Associação, falando que este em um momento de fúria queria matar o cachorro da família, pois queria seu vídeo game de volta.
Em um encontro com a família e utilizando um jogo colaborativo, todos os filhos puderam falar de seus medos de uma maneira tranqüila. Em uma das perguntas (Em caso de incêndio, o que cada membro de sua família iria retirar da casa?). A responsável pelas respostas (irmã mais velha) falou: Mamãe iria retirar todos, V., o cachorro, I., a bicicleta e papai o computador. Depois de uma breve pausa, todos responderam: É o COMPUTADOR e sorriram. Após minhas considerações todos puderam refletir o porquê da resposta. E esta foi muito significativa para todos.
A partir deste momento ocorreu uma movimentação na relação familiar.
Para os pais de A. a orientação se deu de maneira diferente. Nesta sempre comparecem: o pai, a mãe, a irmã e o cunhado. Ao término de uma sessão, onde o pai chorou muito, pois admitia a maneira indiferente com que tratava a filha, foi necessário respeito, mas não indiferença no momento. Pude falar que A. estava crescendo e que deveria se comportar e assumir responsabilidade como tal, ou seja, sair de casa com documentos, dinheiro da passagem e asseado. Houve um espanto geral, como se não soubessem!
É preciso, no entanto ter a sensibilidade para saber se este tipo de orientação é realizável. Em algumas famílias não é possível tal prática, por falta de habilidade do terapeuta ou disponibilidade afetiva dos membros.
Por: André Luiz
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